Foi há 18 anos...ou melhor fez na semana 18 anos que fui operada. Embora cada vez esteja mais distante, não há ano que passe sem que me lembre.
Tinha 13 anos e estava assustada. Lembro-me que na noite anterior à operação estive com a minha irmã no quarto dos meus pais, a dar cambalhotas em cima da cama. Sabia que aquelas iam ser as minhas últimas cambalhotas... e eu gostava tanto de dar cambalhotas! Depois da operação a minha coluna ia ficar fixa e nunca mais poderia voltar a brincar assim...
No dia da operação fui com os meus pais até à clínica na Reboleira. Esperei imenso tempo, pelo menos assim me pareceu! Deixei os meus pais, e fui preparada para a operação. Chegou a hora do almoço, e eu não almocei.... mas finalmente chegaram os médicos. Lembro-me da sala de operações, de sentir frio. Quando acordei da anestesia estava "tonta", não entendi onde estava nem o que se tinha passado! Estava escuro e sempre que esticava os pés sentia um calor estranho. Aquela sensação assustou-me durante toda a noite. Só de manhã quando chegou a enfermeira é que descobri o motivo do meu medo, um saco de água quente!!!
Passei um dia nos cuidados intensivos. Lembro-me de me sentir mal e vomitar. Ao fim da manhã passou por lá uma menina que ia ser operada nesse dia...
Depois seguiram-se uns dias no quarto da clínica, onde partilhei o quarto com a tal menina. A mãe dela ficava lá durante a noite e ajudava-nos com as almofadas. Coitada, o que eu passou comigo! Sentia-me desconfortável, sem posição e custava-me imenso dormir!
Como isto já foi há 18 anos tenho apenas memórias soltas.... devia ter escrito um diário, para me lembrar mais tarde.
A primeira vez que o médico que pôs de pé... que sensação estranha... era difícil equilibrar-me...
Foi quase como voltar a aprender a andar... e a equilibrar o corpo nas pernas.
Durante os primeiros dias comecei a comer, ou melhor beber líquidos por uma palhinha. Lembro-me de estar a ver um episódio da Rua Sésamo sobre talheres... e eu ali a comer de palhinha!
A certa altura resolvi tentar levantar-me e comer comida a sério. A menina que estava comigo no quarto, era uns anos mais velha, e ajudou-me a levantar. Chegámos até à mesa onde estavam os tabuleiros mas, acabei por desistir. Estava com dores e não consegui sentar-me a comer.... tive de voltar para a cama. Nunca me esqueci da ementa que acabei or não comer... peixe com batatas no forno!
Todos os dias tinha visitas, os meus pais, tios e amigos. Era cansativo, sentia-me muito fraca.
Lembro-me do médico me ter tirado os tubos que drenavam os líquidos ao longo da coluna. Doeu-me tanto. Gritei e chorei de dores.
Fui melhorando dia a dia, e passados 7 dias voltei para casa, de ambulância. Aí, começou a segunda fase da recuperação.